Sobre as madrugadas vertiginosas

Vidros abertos e mãos pra fora, a avenida vazia nos permitia passar todos os faróis vermelhos e eu sentia uma paz indescritível. Rio Preto era fresca durante a noite e nós, criaturas noturnas, sabíamos desfrutar de tudo o que a madrugada tinha pra nos oferecer. Equilíbrio talvez fosse a palavra certa pra definir aquela sensação que me fazia pensar que, se a avenida de repente se tornasse um precipício, eu lhe pediria para acelerar, porque eu podia morrer naquele instante. Quiçá algo tivesse a ver com o conceito de Kundera sobre a vertigem que nunca abandonou minhas masturbações mentais, mas naquele homem eu tinha vontade de cair. Mergulhar na sua pele branca lisa me afogar em seu pescoço me enforcar no seu abraço e respirar seus medos todos. Como o precipício nunca chegou, me joguei da janela de seu quarto quando o suicídio pareceu inevitável. Não tinha ninguém esperando lá embaixo e na queda morremos todos pra renascer no dia seguinte, sem arrependimentos, convictos de que essa será sempre a única forma de cair: desarmados. Braços abertos, peito nu, coração indefeso. Morrer, nascer de novo e seguir a busca por novas avenidas com faróis vermelhos que se tornarão lindos precipícios.

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